FINANCIAMENTO DO CAPITAL FIXO (1970-2012): DISSOLVENDO O PARADOXO APARENTE ENTRE FINANCEIRIZAÇÃO E AUTOFINANCIAMENTO EM CONTEXTO DE QUEDA DA TAXA DE LUCRO

Leandro Theodoro Guedes, Elcemir Paço Cunha

Resumo


O objetivo do presente artigo é apresentar a tendência principal no padrão de financiamento dos investimentos em capital fixo entre 1970 e 2012 considerando as economias alemã, estadunidense e japonesa tendo em mira a comparação com a economia brasileira. Os dados sugerem que, embora não haja convergência da composição do financiamento dos investimentos, a tendência geral é de prevalência do autofinanciamento. O padrão observado para o período, contudo, apresenta um movimento de queda na taxa de lucros acompanhada desse autofinanciamento, diferentemente do período clássico do capitalismo e também do período do pós-guerra até a década de 1970. Procura-se dissolver o aparente paradoxo entre financeirização como financiamento externo e manutenção do autofinanciamento mesmo num contexto de queda da taxa média de lucro. Sugere-se que a estrutura de capital, composta de ampliação dos ativos financeiros e manutenção do autofinanciamento, surge como resposta do capital à queda tendencial da taxa de lucro em que os ganhos financeiros de curto prazo amortecem os efeitos sobre autofinanciamento produtivo.


Palavras-chave


Padrão de financiamento; Capital fixo; Taxa média de lucro.

Texto completo:

PDF

Referências


ALBUQUERQUE, E. M. A foice e o robô: as inovações tecnológicas e a luta operária. São Paulo: Página 7 Artes Gráficas Ltda, 1990.

BARNEY, J. B; HESTERLY, W. Organizational economics: Understanding the relationship between organizations and economic analysis. In: CLEGG, Stewart R; HARDY, C; NORD, Walter R. (Org.). The SAGE handbook of organization studies. London: SAGE, 2006, p. 111-148.

BASTOS, Douglas Dias; NAKAMURA, Wilson Toshiro. Determinantes da estrutura de capital das companhias abertas no Brasil, México e Chile no período 2001-2006. Rev. contab. finanç., São Paulo , v. 20, n. 50, p. 75-94, Aug. 2009

BRENNER, R. O boom e a bolha: os Estados Unidos na economia mundial. São Paulo: Record, 2003.

BRENNER, R. The economics of global turbulence: the advanced capitalist economies from long boom to long downturn, 1945-2005. Verso, 2006.

CAMARA, Guilherme D; MISOCZKY, Maria C. A. A Produção Teórica sobre a Pobreza na Administração. Administração Pública e Gestão Social, p. 45-56, 2019.

CEMEC. Financiamentos dos investimentos no Brasil - Análise preliminar para relatório trimestral. Trabalho de Discussão Interna - TDI CEMEC No. 8. IBMEC, set., 2011. Disponível em: . Acesso em 18 de mar. de 2018.

CEMEC. Relatório trimestral de financiamento dos investimentos no Brasil. Nota CEMEC no. 5. IBMEC, jun., 2017. Disponível em: http://codemec.org.br/instituto/wp-content/uploads/2014/10/NOTA-CEMEC-05-2017-PADRAO-DE-FINANCIAMENTO-DOS-INVESTIMENTOS.pdf. Acesso em 20 de abr. de 2018.

CHASIN, José. Marx – Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica. São Paulo; Boitempo. 2009

CHESNAIS, F. Finance capital today: corporations and banks in the lasting global slump. Brill, 2016.

CORBETT, J.; JENKINSON, T. How is Investment Financed? A Study of Germany, Japan, the United Kingdom and The United States. Manchester: The Manchester School Supplement 0025/2034. 1997. p. 69-93.

CORREA, Carlos Alberto; BASSO, Leonardo Fernando Cruz; NAKAMURA, Wilson Toshiro. A estrutura de capital das maiores empresas brasileiras: análise empírica das teorias de Pecking Order e trade-off, usando panel data. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, São Paulo , v. 14, n. 4, p. 106-133, Aug. 2013.

DETZER, D.; DODIG, N.; EVANS, T; HEIN, E.; HERR, H. The German financial system and the financial and economic crisis. Studies in Financial Systems No. 3, Financialisation, Economy, Society & Sustainable Development (FESSUD) Project. 2013. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

DOBB, M. Economia Política e Capitalismo. Rio de Janeiro: Edições Graal. 1978.

DUMÉNIL, G; LÉVY, D. A crise do neoliberalismo. São Paulo: Boitempo, 2014.

DURAND, C.; GUEUDER, M. The investment-profit nexus in an era of financialisation and globalisation. a profit-centred perspective. Post Keynesian Economics Study Group. Working Paper 1614, jul., 2016. Disponível em . Acesso em 15 de mar. de 2018.

ETZIONI, A. Análise comparativa de organizações complexas. Rio de Janeiro: Zahar; São Paulo: Editora da USP, 1974.

FARIA, J. H. Economia política do poder em estudos organizacionais. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 65-112, jun. 2014.

FARIA, J. H. de. Epistemologia Crítica do Concreto e Momentos da Pesquisa: uma proposição para os Estudos Organizacionais. RAM. Revista de Administração Mackenzie (Online), v. 16, p. 1-36, 2015.

FERRAZ, J. de M.; FERRAZ, D. L. da S. O materialismo histórico e dialético: porque ser contra-hegemônico não é necessariamente ser contra o capital. In: PAÇO CUNHA, E; FERRAZ, Deise L. da S. (Org.). Crítica Marxista da Administração. 1ed.Rio de Janeiro: Rizoma, 2018.

FERRAZ, D. L. S.; CHAVES, R. H; FERRAZ, J.M. Para além da epistemologia: reflexões necessárias para o desenvolvimento do conhecimento. READ. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre. Online), v. 24, p. 1-30, 2018.

FLORES, R. K; MISOCZKY, M. C. Dos Antagonismos na apropriação capitalista da água à sua concepção como bem comum. Organizações & Sociedade (Online), v. 22, p. 237-250, 2015.

FRANK, A. G. Dependent accumulation and underdevelopment. London: MacMillan Press, 1978.

FREEMAN, A. What Makes US Profit Rate Fall?. MPRA Paper No. 14147, Munich, 2009. Disponível em: . Acesso em 15 de mar. de 2018.

HILFERDING, R. O capital financeiro. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

KLIMAN, A. The Failure of Capitalist Production: underlying causes of the great recession. Pluto Press, 2011.

JORGE, T. M.; ALMEIDA, V. C; CASTRO, V. S. Novos gestores orientados para as finanças ou velhos gestores orientados para o lucro?. In: Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais, 2018, Curitiba. V Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais, 2018.

JUSTEN, A.; GURGEL. C. R. M.; FERRAZ, D. L. S.; & PAÇO-CUNHA, E. Administração política: por uma agenda de pesquisa marxista. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 4(10), 663-759, 2017.

LENIN, V.I. Imperialismo: estágio superior do capitalismo. São Paulo: Expressão Popular, 2012.

KEYNES, J. M. The process of capital formation. In: The Collected Writings of John Maynard Keynes. Vol. XIV, The General Theory and After, Part II Defence and Development, 1973.

MAITO, E. The Historical Transience of Capital: the downward trend in the rate of profit since XIX Century. MPRA Paper No. 55894, Munich, 2014a. Disponível em . Acesso em 15 de mar. de 2018.

MAITO, E. Rise and Standstill of Japan (1955-2008): a Marxist explanation. MPRA Paper No. 53102, Munich, 2014b. Disponível em . Acesso 15 de mar. de 2018.

MANDEL, E. Capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

MANDEL, E. Marxist economic theory. v. 2. New York: Monthly Review Press, 1968.

MARENS, R. It's not just for communists any more: Marxian political economy and organizational theory. In: ADLER, P. The Oxford handbook of sociology and organization studies. Oxford University Press, 2009.

MARQUETTI, A.; MALDONADO FILHO, E.; LAUERT, V. The Profit Rate in Brazil, 1953-2003. The Review of Radical Political Economics, v. 42, p. 485-504, 2010.

MARX, K. O Capital. Livro III. São Paulo: Boitempo, 2017.

MARX, K. Grundrisse. São Paulo: Boitempo, 2011.

MARX, K. O Capital. Livro I. são Paulo: Boitempo, 2013.

MINELLA, A. C. Banqueiros: organização e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo/Anpocs, 1988.

MINSKY, H. P. Stabilizing an unstable economy. New York: McGraw Hill, 2008.

MYERS, S. The capital structure puzzle. The Journal of Finance, v. 39, n. 3, p. 575-592, July 1984

ORHANGAZI, O. Financialisation and capital accumulation in the non-financial corporate sector: a theoretical and empirical investigation on the US economy: 1973–2003. Cambridge Journal of Economics, n. 32, 2008, p. 863–886.

PAÇO-CUNHA, E. Chasin e Mészáros: a propósito da assim chamada crise estrutural. Anuário Lukács, v. 2018, p. 155-185, 2018.

PAÇO-CUNHA, E. Engels, marxólogo: dialética e política. Verinotio (Belo Horizonte), v. 20, p. 151-162, 2015.

PAÇO CUNHA, E.; FERRAZ, Deise Luiza da Silva. Marxismo, Estudos Organizacionais e a luta contra o irracionalismo. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 22, n. 73, p. 193-198, June 2015.

PAÇO-CUNHA, E; JORGE, T. M. Personificações do Capital e Longa Depressão nos Estados Unidos: Contribuições de Robert Brenner para o Estudo dos Gestores do Capital no Contexto de Crise. In: Enanpad, 2018, Curitiba. Enanpad, 2018.

GUEDES, L. T.; PAÇO-CUNHA, E. A função das finanças no avanço técnico brasileiro (2005-2014). In: Seminário Crítica da Economia Política e do Direito, 2018, Belo Horizonte. Anais do I Seminário Crítica da Economia Política e do Direito, 2018.

POLLIN, R.; HEINTZ, J. Study of US financial system. Financialisation, Economy, Society & Sustainable Development (FESSUD) Project, 2013. Disponível em: . Acesso em 15 de mar. de 2018.

ROBERTS, M. The long depression. Chicago: Haymarket Books, 2016.

ROBINSON, J. The accumulation of capital. 3ª ed. London: Macmillan, 1969.

RODRIGUES JUNIOR, W; MELO, G. M. Padrão de financiamento das empresas privadas no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA Documento de Trabalho 653, 1999. Disponível em: . Acesso em 18 de mar. de 2018.

SANTOS, R. S. A integração do plano analítico: os estudos no campo da administração política. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade. V 4. N 10. Belo Horizonte. 2017

SANTOS, Reginaldo Souza et al. Administração política e políticas públicas: em busca de uma nova abordagem teórico-metodológica para a (re)interpretação das relações sociais de produção, circulação e distribuição. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, p. 939-959, dez. 2017.

SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

SHABANI, M.; TOPOROWSKI, J. Financialisation and the financial and economic crises: the case of Japan. Studies in Financial Systems No. 28. Financialisation, Economy, Society & Sustainable Development (FESSUD) Project. 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

SOARES, F. P. Os debates sobre a Educação Financeira em um contexto de financeirização da vida doméstica, desigualdade e exclusão financeira. (Tese de doutorado). PUC-Rio, 2017.

TRADING ECONOMICS. United States Capacity Utilization. 2018a Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2018.

TRADING ECONOMICS. Japan Capacity Utilization. 2018b. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2018.

TRADING ECONOMICS. Germany Capacity Utilization. 2018c. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2018.

TRADING ECONOMICS. Brazil Capacity Utilization. 2018d. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2018.

TÜRK, Klaus. The critique of the political economy of organization. International Journal of Political Economy, v. 29, n. 3, 1999, p. 6-32. Doi: https://doi.org/10.1080/08911916.1999.11643993

VEBLEN, T. Teoria da empresa industrial. Porto Alegre: Globo, 1966.

VIDAL, M. Work and Exploitation in Capitalism: The Labor Process and the Valorization Process. In: Vidal, M., Smith, T., Rotta, T., & Prew, P. (Ed.). The Oxford Handbook of Karl Marx: Oxford University Press. Retrieved 27 Jan. 2019

VIDAL, M.; ADLER, P.; DELBRIDGE, R. When Organization Studies Turns to Societal Problems: The Contribution of Marxist Grand Theory. Organization Studies, v. 36, n. 4, p. 405-422, Apr 2015. ISSN 0170-8406.

WORLD BANK. Gross fixed capital formation (constant 2010 US$). 2018a. Disponível em: . Acesso em 20 abr. de 2018.

WORLD BANK. Gross fixed capital formation, private sector (% of GDP). 2018b. Disponível em: . Acesso em 20 abr. 2018.




DOI: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2021.v8n1.394

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




 

 

 

DOI 10.21583 

eISSN: 2447-4851

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia