COLETIVOS DE ENTREGADORES COMO CAMPO DE RESISTÊNCIA À PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO MEDIADO POR PLATAFORMAS DIGITAIS NO CONTEXTO URBANO BRASILEIRO
Resumo
A estrutura de trabalho para os entregadores nas plataformas do grande capital é considerada precarizada, sendo tais indivíduos enquadrados como precarizados, e, portanto, se faz necessário buscar “estruturas de trabalho outras” para tais profissionais, sendo essas mais justas para todos os atores envolvidos. Nesse sentido, no presente artigo tem-se — com base nos pensamentos de Trebor Scholz, Guy Standing e Milton Santos — como objetivo geral analisar se os coletivos de entregadores se configuram como um campo de resistência viável à precarização do trabalho de entregadores, mediados por plataformas digitais, no contexto urbano brasileiro. Utilizou-se a técnica análise de conteúdo temática para analisar as entrevistas realizadas com integrantes dos coletivos de entregadores Pedal Express e Señoritas Courier. Aponta-se que os coletivos de entregadores são, de fato, um campo de resistência viável à precarização do trabalho de entregadores, mediados por plataformas digitais, no contexto urbano brasileiro, e embora os desafios para que tal resistência se fortaleça sejam significativos, o processo de luta está, desde já, se desenrolando.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
ABILIO, L. C. Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado. Psicoperspectivas, v. 18, n. 3, p. 41-51, 2019.
ALVES, G. Dimensões da reestruturação produtiva: ensaios de sociologia do trabalho. Bauru: Editora Praxis, 2007.
ANDRÉ, R. G.; SILVA, R. O.; NASCIMENTO, R. P. “Precário não é, mas eu acho que é escravo”: análise do trabalho dos motoristas da Uber sob o enfoque da precarização. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, v. 18, n. 1, p. 7-34, 2019.
ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviço na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
ANTUNES, R. Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BARZOTTO, L. C.; VIEIRA, L. P. Cooperativismo de plataforma no paradigma colaborativo. Revista da Escola Judicial do TRT4, V. 1, n. 1, p. 41-65, 2019.
BRAGA, R.; MARQUES, J. Trabalho, globalização e contramovimentos: dinâmicas da ação coletiva do precariado artístico no Brasil e em Portugal. Sociologias, v. 19, n. 45, p. 52-80, 2017.
CAMPOS, C. J. G. Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 57, n. 5, p. 611-614, 2004.
CASILLI, A.; POSADA, J. The Platformization of Labor and Society. In: GRAHAM, Mark; DUTTON, W. (org.). Society and the Internet. Oxford: OUP, 2019, p. 293-306.
CATAIA, M.; SILVA, S. C. Considerações sobre a teoria dos dois circuitos da economia urbana na atualidade. Boletim Campineiro de Geografia, v. 3, n. 1, p. 55-75, 2013.
CHAVES, A. B. P. Da planta taylorista/fordista ao capitalismo de plataforma: as engrenagens da exploração do trabalho. Research, Society and Development, v. 9, n. 6, p. 93, 2020.
DEGRANDI, J. O.; SILVEIRA, R. L. L. Verticalidades e horizontalidades na função comercial da cidade de Santa Maria-RS. Revista de Geografia da UFC, v. 12, n. 29, p. 39-50, 2013.
DIGILABOUR. Coletivos e cooperativas de entregadores no Brasil. DigiLabour. Jul.
Disponível em: https://digilabour.com.br/2020/07/26/coletivos-e-cooperativas-de-entregadores-no-brasil/. Acesso em: 26 jan. 2022.
DOORN, N. V. Platform labor: on the gendered and racialized exploitation of low-income service work in the ‘on-demand’economy. Information, Communication & Society, v. 20, n. 6, p. 898-914, 2017.
DRUCK, G.; DUTRA, R.; SILVA, S. C. A contrarreforma neoliberal e a terceirização: a precarização como regra. Cad. CRH, v. 32, n. 86, ago. 2019. p. 289-306.
ENTREGUE como uma garota. Direção de Adriana Marmo, Luciana Cury e George Queiroz. São Paulo: Bicicleteiros, 2020. 11 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CJZnNz5g_i8. Acesso em: 25 jan. 2020.
ESTEVAM, D. O.; LANZARINI, J. J. S.; SALVARO, G. I. J. O custo operacional das cooperativas descentralizadas da Região Sul de Santa Catarina. Revista de contabilidade do Mestrado em Ciências contábeis da UERJ, v. 20, n. 1, 2016.
GROHMANN, R. Plataformização do trabalho: entre dataficação, financeirização e racionalidade neoliberal. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 22, n. 1, p. 106-122, 2020.
GROHMANN, R.; QIU, J. Contextualizando o Trabalho em Plataformas. Revista Contracampo, v. 39, n. 1, 2020.
GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, p. 115-147, 2008.
GURGEL, C.; JUSTEN, A. Teorias organizacionais e materialismo histórico. Organizações & Sociedade, v. 22, n. 73, p. 199-222, 2015.
MARTINS, J. R. Immanuel Wallerstein e o sistema-mundo. Iberoamérica Social, n. V, p. 95-108, 2015.
MORAIS, R. B. S. Precarização, uberização do trabalho e proteção social em tempos de pandemia. NAU Social, v. 11, n. 21, p. 377-394, 2020.
MOURA, M. Os maiores restaurantes dos próximos cinco anos ainda nem existem, diz Sebastian Mejía, CEO do Rappi. Revista Época Negócios, mar., 2020a. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Startup/noticia/2020/03/os-maiores-restaurantes-dos-proximos-cinco-anos-ainda-nem-existem-diz-sebastian-mejia-ceo-do-rappi.html. Acesso em: 22 jan. 2022.
MOURA. M. Queremos escapar da lógica irracional das promoções', diz Eduardo Donnelly, diretor-geral do Uber Eats na América Latina. Revista Época Negócios, mar., 2020b. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2020/02/queremos-escapar-da-logica-irracional-das-promocoes-diz-eduardo-donnelly-diretor-geral-do-uber-eats-na-america-latina.html. Acesso em: 22 jan 2022.
POCHMAN, Márcio. Terceirização, competitividade e uberização do trabalho no Brasil. In: TEIXEIRA, Marilane et al (orgs). Precarização e terceirização: faces da mesma realidade. São Paulo: Sindicato dos Químicos, 2016.
REOLON, C. A.; SOUZA, V. A teoria dos dois circuitos da economia urbana de Milton Santos: subsídios para uma discussão. Formação (Online), v. 2, n. 12, 2005.
SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
SANTOS, M. A Natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, M. A Natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4.ed. São Paulo: Edusp, 2014.
SANTOS, M. No Brasil, trabalho de plataforma como sinônimo de precarização é discurso de classe. Contracampo, v. 39, n. 2, 2020.
SCHNEIDER, J. O. A doutrina do cooperativismo: análise do alcance, do sentido e da atualidade dos seus valores, princípios e normas nos tempos atuais. Cadernos Gestão Social, v. 3, n. 2, 2012.
SCHOLZ, T. Cooperativismo de plataforma. São Paulo: Elefante, 2016.
SCHOLZ, T. Cooperativismo de plataforma: contestando a economia do compartilhamento corporativa. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, 2017.
SILVA, A. H.; FOSSÁ, M. I. T. Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para análise de dados qualitativos. Qualitas Revista Eletrônica, v. 16, n. 1, 2015.
SILVA, F. A. G. et al. Os princípios de economia substantiva de Karl Polanyi em relações de economia solidária: o caso do povoado Cruz (Currais Novos/RN). Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, v. 10, n. 2, p. 93-106, 2011.
SILVA, W. A. D. O surgimento e fortalecimento das cooperativas de entregadores de aplicativos no Brasil como reflexo do Covid-19. Revista Eletrônica Sapere Aude, v. 1, n. 2, p. 103-118, 2020.
SILVEIRA, M. L. Metrópolis brasileñas: un análisis de los circuitos de la economía urban. EURE, v. 33, n. 100, p. 149-164, 2007.
SLEE, T. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. São Paulo: Editora Elefante, 2017.
STAHL, R. L.; SCHNEIDER, J. O. As interfaces entre cooperativismo e economia solidária. Ciências Sociais Unisinos, v. 49, n. 2, p. 197-206, 2013.
STANDING, G. O precariado: a nova classe perigosa. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
SOUZA, D. L. et al. Condicionantes negativos em redes de cooperação: Um estudo de caso numa cooperativa agropecuária. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v. 11, n. 1, p. 579-589, 2013.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
YOUNG, L. H. B. Sociedades cooperativas: resumo prático. 8. ed. Curitiba: Juruá, 2008.
DOI: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2023.v10n2.567
Apontamentos
- Não há apontamentos.
DOI 10.21583
eISSN: 2447-4851