COLETIVOS DE ENTREGADORES COMO CAMPO DE RESISTÊNCIA À PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO MEDIADO POR PLATAFORMAS DIGITAIS NO CONTEXTO URBANO BRASILEIRO

Thiago Cunha de Oliveira, Cléber dos Santos Reis

Resumo


A estrutura de trabalho para os entregadores nas plataformas do grande capital é considerada precarizada, sendo tais indivíduos enquadrados como precarizados, e, portanto, se faz necessário buscar “estruturas de trabalho outras” para tais profissionais, sendo essas mais justas para todos os atores envolvidos. Nesse sentido, no presente artigo tem-se — com base nos pensamentos de Trebor Scholz, Guy Standing e Milton Santos — como objetivo geral analisar se os coletivos de entregadores se configuram como um campo de resistência viável à precarização do trabalho de entregadores, mediados por plataformas digitais, no contexto urbano brasileiro. Utilizou-se a técnica análise de conteúdo temática para analisar as entrevistas realizadas com integrantes dos coletivos de entregadores Pedal Express e Señoritas Courier. Aponta-se que os coletivos de entregadores são, de fato, um campo de resistência viável à precarização do trabalho de entregadores, mediados por plataformas digitais, no contexto urbano brasileiro, e embora os desafios para que tal resistência se fortaleça sejam significativos, o processo de luta está, desde já, se desenrolando.


Palavras-chave


Estudos Organizacionais; Precarização; Milton Santos

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DOI: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2023.v10n2.567

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