O DESPERTAR DA “FORTUNA” COLECIONISTA NAS MEMÓRIAS DE COLECIONADORES MINEIROS

Gabriel Farias Alves Correia, Alexandre de Pádua Carrieri, João Henrique Machado Delgado, Gustavo dos Santos Miranda de Avelar

Resumo


O objetivo deste artigo é analisar como e por que os colecionadores de diversos objetos iniciaram suas atividades colecionistas em Minas Gerais. Partimos de um referencial teórico que trata de histórias e memórias e sobre o colecionismo de objetos. Nesta pesquisa, que é qualitativa, analisamos as narrativas de 29 colecionadores, utilizando a Análise de Narrativas e triangulamos os dados com anotações de caderno de campo e da observação não-participante. Os resultados revelam múltiplos começos para o colecionismo, envoltos pela socialização na infância, da figura paterna, eventos da vida adulta, grupos de referência e lugares nas cidades. O estudo contribui para os Estudos Organizacionais ao destacar práticas que valorizam o tempo da experiência e do sentimento, em contraste com a produtividade capitalista, propondo uma valorização do fazer, ser e viver no cotidiano organizacional.


Palavras-chave


Histórias; Memórias; Colecionismo; Práticas cotidianas

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DOI: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2024.v11n2.625

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